'A essência da inteligência não é saber das coisas, é ver o futuro': as previsões do físico visionário Michio Kaku
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Em conversa com Kaku em sua casa em Nova York, a BBC Mundo (o serviço em espanhol da BBC) buscou entender as previsões sobre o futuro trazidas em seu livro Supremacia Quântica.
BBC Mundo - Uma das coisas que mais chama a atenção em seus trabalhos é a ideia de que o cérebro humano são, na verdade, três cérebros. Pode explicar?
Michio Kaku - Quando você analisa o cérebro humano, você percebe que existem três elementos que o compõem, tudo como parte de seu processo evolutivo: a parte de trás, que é o que chamamos de cérebro reptiliano, que é a parte que governa, digamos, os padrões de caça. Depois vem a parte média, o centro do cérebro, que conhecemos como o cérebro primata ou do macaco, que lida com a socialização, os temas de hierarquização. E depois temos a parte frontal, o córtex pré-frontal. E é aqui que surge a grande diferença: essa parte do cérebro é uma máquina do tempo. É uma máquina que pode ver o futuro, está constantemente fazendo simulações do que pode nos acontecer mais adiante.
Agora, se você não acredita em mim, convido você a fazer uma experiência: esta noite, ensine o conceito de amanhã ao seu cachorro. Não dá, é impossível. Os animais não entendem a ideia do amanhã.
E isso sempre me chamou a atenção.
BBC Mundo - Mas todos podemos ter a mesma capacidade de ver o futuro?
Kaku - Não. O que distingue um cérebro comum de um com um nível notavelmente superior? Poderíamos chamar o cérebro de uma pessoa comum de oportunista. Olha somente para as oportunidades que estão à sua frente. Nada de planejar coisas. Um ladrão ruim, por exemplo, só leva aquilo que está na sua frente. Os grandes pensadores exercitam essa máquina do tempo constantemente. Eles simulam o futuro. Conhecem as leis da natureza e são capazes de aplicá-las para projetar como pode ser o futuro.
O Exército dos EUA percebeu isso durante a Guerra do Vietnã. Eles estavam tentando entender quem dentro da tropa poderia se tornar líder e estrategista e quem era apenas seguidor, cumpridor de ordens. Ao entrevistar esses soldados, depararam-se com algo que surpreendeu: que as pessoas comuns, que não se consideravam gênios, simulavam constantemente o que aconteceria depois, prevendo coisas, pensando em como escapar se fossem capturados ou como proteger a base em caso de um ataque surpresa.
O que acontece é que começamos a entender que nosso conceito de inteligência é apenas parcialmente correto. Pensamos que alguém é inteligente por saber coisas, mas isso não é a essência da inteligência. A essência da inteligência é ver o futuro. Estimular a criação de um futuro que não existe.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c51d2rvpqdvo