Recentemente, uma amiga publicou em seu facebook um punhado de frases seguidas de um pedido para que, se algum amigo dela concordasse com qualquer uma daquelas frases, que a excluísse do círculo de amizades imediatamente.
Obviamente que eu não a excluí. Não acho que a opinião de uma pessoa sobre um assunto seja um fator assim tão crucial na definição de nossas amizades, mesmo aqueles amigos que têm opiniões ao meu ver extremamente cretinas, como homofóbicos, anti-semitas ou admiradores de música sertaneja.
As pessoas são um pouco mais complexas do que a dualidade de suas crenças. É impossível julgar alguém por uma opinião isolada, sem sabermos as motivações e causas que a levaram a ter aquelas idéias. E é justamente isso que é fantástico: por mais imbecis que sejam as razões e por pior expostas que sejam oferecidas, é crucial a todos entrarem em contato com opiniões diferentes, nem que seja para confirmar ainda mais a própria.
A conseqüência de conviver apenas com pessoas que compartilham suas idéias é óbvia: Você passa a acreditar que faz parte de uma verdade tão absoluta que não consegue nada mais do que sentir asco e desdém quando encontra uma opinião contrária. Por isso é igualmente importante dar voz a pessoas notoriamente idiotas, como o Marco Feliciano. A exposição de sua opinião é crucial para aqueles que discordam tenham suas idéias fortalecidas.
No fantástico livro “You are not so smart“, somos premiados a cada capítulo com um viés de conhecimento ou com pesquisas que comprovam a burrice inerente a todos os seres humanos. Todos, sem exceção. Um dos capítulos explora a Confirmation Bias, um conceito que defende que suas opiniões são simplesmente o resultado de anos e anos prestando atenção apenas às informações que confirmam aquilo que você acredita enquanto ignora aquelas que desafiam os seus conceitos já estabelecidos.
Isso explica claramente porquê esquerdistas ignoram a revista Veja e direitistas ignoram a Carta Capital. Ninguém gosta de ser desafiado a pensar. Ninguém gosta de ter a própria opinião contestada. É mais fácil então desmerecer o veículo do que os fatos expostos. Você quer estar certo sobre a forma como você vê o mundo, então você sempre busca informações que confirmem suas crenças.
Nas eleições presidenciais de 2008, o pesquisador Valdis Krebs fez uma análise das compras de livros no site da Amazon. Pessoas que já apoiavam Obama eram as mesmas que compravam livros que o expunham sobre uma ótica positiva. Os livros negativos eram comprados pelas pessoas que já discordavam dele. No Brasil, não é preciso fazer nenhuma pesquisa para saber que são os direitistas que lêem “O País dos Petralhas“, de Reinaldo Azevedo e são os esquerdistas que lêem “A Privataria Tucana“, de Amaury Ribeiro. As pessoas não compram esses livros pela informação contida neles. Elas compram pela confirmação do que elas pensam.
Estamos prestes a entrar no ano de eleições, aquele período em que 80% do facebook se transformará em um ativista chato politizado. Pense nisso se você resolver entrar nesses tipos de discussão e observe os dois lados. Ouvir o outro lado é algo certamente útil na hora de escolher um candidato.
Assim, espero sinceramente que você discorde deste texto.
“Be careful. People like to be told what they already know. Remember that. They get uncomfortable when you tell them new things. New things… well, new things aren’t what they expect. They like to know that, say, a dog will bite a man. That is what dogs do. They don’t want to know that a man bites a dog, because the world is not supposed to happen like that. In short, what people think they want is news, but what they really crave is olds… Not news but olds, telling people that what they think they already know is true.”
Terry Pratchett – The truth: a Novel of Discworld
“O que eu espero senhores, é que depois de um razoável período de discussão, todo mundo concorde comigo.”
Winston Churchill