Escovando bits

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Em seu Livro "A Estrada do Futuro", de 1995, Bill Gates explica brilhantemente neste trecho como funcionam os bits e Bytes:

Em meados da década de 1930, Alan Turing, um excelente matemático britânico treinado em Cambridge, como Babbage, propôs o que hoje se conhece por máquina de Turing. Era sua própria versão de uma máquina calculadora de uso geral, capaz de receber instruções para trabalhar com praticamente qualquer tipo de informação.

No final da mesma década, Claude Shannon demonstrou, ainda quando estudante, que uma máquina executando instruções lógicas seria capaz de processar informação. Em sua tese de mestrado, Shannon explica como os circuitos de computador-fechados para verdadeiro e abertos para falso -poderiam executar operações lógicas usando o número 1 para representar "verdadeiro" e 0 para representar "falso".

Esse é um sistema binário. Um código. E o sistema binário é o alfabeto dos computadores eletrônicos, a base da linguagem para a qual todas as informações são traduzidas e na qual são armazenadas e utilizadas no interior de um computador. Algo muito simples, mas tão crucial para compreender como os computadores funcionam que vale a pena fazer uma pausa para explicar melhor.

Imagine que você está querendo iluminar um aposento usando um máximo de 250 watts de eletricidade e quer que essa iluminação seja ajustável, de O watt (escuridão total) até a potência total. Uma forma de se conseguir isso é usar um regulador de luz giratório ligado a uma lâmpada de 250 watts. Para chegar à escuridão total e obter O watt de luz, gire o regulador no sentido antihorário até a posição desligado. Para luminosidade máxima, gire o regulador no sentido horário até os 250 watts de luz. Para uma luz intermediária, gire o regulador até uma posição intermediária.

É um sistema fácil de usar, porém limitado. Se o interruptor estiver numa posição intermediária- digamos que você tenha diminuído a luz para um jantar íntimo-, é uma questão de adivinhação saber em que nível a luz está. Você na verdade não sabe quantos watts estão em uso, nem como descrever o ajuste com precisão. Tem uma informação aproximada, o que dificulta seu armazenamento e reprodução.

E se você quiser repetir exatamente o mesmo nível de iluminação na semana seguinte? Poderia fazer uma marquinha no interruptor, para saber até onde girá lo, mas não é dizer que isso. seja muito exato. E o que acontece quando você quiser repetir um outro ajuste de ilumina ção? Ou se um amigo quiser reproduzir o mesmo nível de luz? Você sempre pode dizer: "Gire o botão cerca de um quinto no sentido horário", ou "Gire o botão até a flecha ficar mais ou menos na posição de duas horas", mas o ajuste do amigo será apenas uma aproximação daquele que você conseguiu fazer. E se esse amigo passar a informação a outro, que por sua vez passa para outro e assim por diante? Toda vez que a informação for transmitida, as chances de que continue sendo exata diminuem.

Esse é um exemplo de informação armazenada no formato "analógico". O interruptorreputor fornece uma analogia com o nível de luz da lâmpada. Se for girado até a metade, presumivelmente você tem cerca de metade da potência total. Quando você mede ou descreve até onde o interruptor é girado, na verdade está armazenando informação sobre a analogia (o interruptor) e não sobre o nível de luz. A informa­ção analógica pode ser coletada, armazenada e reproduzida, mas tende a ser imprecisa- e corre o risco de se tornar menos precisa a cada vez que for transmitida.

Agora vamos examinar uma forma totalmente diferente de como fazer a iluminação de um aposento, usando um método digital e não analógico de armazenar e transmitir a informação. Todo e qualquer tipo de informação pode ser convertido em números usando apenas os algarismos zero e um. Estes são chamados de números binários - nú­meros compostos inteiramente de Os e 1s. Cada O ou 1 é chamado de bit. Uma vez convertida, a informação pode ser introduzida e armaze­nada em computadores sob a forma de longas seqüências de bits. Esses números são a "informação digital".

Em vez de uma única lâmpada de 250 watts, digamos que você tenha oito lâmpadas, cada uma delas com uma potência duas vezes maior que a anterior, ou seja, oito lâmpadas de um a 128 watts. Cada lâmpada tem seu próprio interruptor, e a de menor potência está à direita. O arranjo pode ser diagramado como na figura abaixo.

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Ligando e desligando esses interruptores, você ajusta o nível de iluminação com incrementos de um watt, desde zeru watt (todos os inerruptores desligados) até 25 5 watts (todos os interruptores ligados). Isso lhe dá 256 possibilidades. Se quiser um watt de luz, você liga ape­nas o interruptor da extrema direita. Se quiser dois watts de luz, liga só a lâmpada de dois watts. Se quiser três watts de luz, liga as lâmpadas de um e dois watts, porque um mais dois é igual aos desejados três watts. Se quiser quatro watts de luz, você liga a lâmpada de quatro watts. Se quiser cinco watts, liga apenas as lâmpadas de quatro e um watts.

Se quiser 250 watts de luz, liga todas as lâmpadas, exceto as de quatro e um watts. Se tiver chegado à conclusão de que o nível de iluminação ideal para um jantar é de 137 watts, você liga as lâmpadas de 128, oito e um watts, como na figura acima.

O sistema permite registrar facilmente o nível exato de ilumina­ção para uso posterior ou, então, para comunicá-lo a outras pessoas que tenham o mesmo arranjo de lâmpadas. Como a forma de registro da in­formação binária é uqiversal- número baixo à direita, número alto à esquerda, sempre dobrando- não é preciso anotar os valores das lâm­padas. Você registra apenas o padrão dos interruptores: ligado, desli­gado, desligado, desligado, ligado, desligado, desligado, ligado. Com essa informação, qualquer amigo seu pode reproduzir, fielmente, os 13 7 watts de luz. Na verdade, desde que todos os envolvidos confiram de novo a exatidão do que fazem, a mensagem poderá passar por 1 milhãode mãos e, no final, todos sem exceção terão a mesma informação e poderão obter os mesmos 137 watts de iluminação.

Para encurtar ainda mais a notação, você pode registrar cada "desligado" com O e cada "ligado" com 1. O que significa que, em vez de escrever "ligado, desligado, desligado, desligado, ligado, desligado, desligado, ligado", vale dizer, ligue a primeira, a quarta e a oitava das oito lâmpadas e deixe as outras desligadas, você escreve a mesma informação como 1, O, O, O, 1, O, O, 1 ou 10001001, um número binário. No caso, é 137. Você liga para o amigo e diz: "Consegui o nível perfeito de iluminação! É 10001001. Experimente". Seu amigo vai chegar ao mesmíssimo resultado, simplesmente ligando um interruptor para cada 1 e desligando outro para cada O.

Pode lhe parecer um jeito complicado de determinar o grau de luz minosidade de uma fonte de luz, mas trata-se de um exemplo da teoria que existe por trás da notação binária, base de toda a computação moderna.

 

Fonte:

https://www.skoob.com.br/a-estrada-do-futuro-2393ed3166.html

https://www.estantevirtual.com.br/livros/bill-gates/a-estrada-do-futuro/3425308146

 

 Imagem:

https://impulsopositivo.com/bem-vindo-as-estradas-inteligentes-do-futuro/