Ônibus espacial e biga romana

 
A tecnologia cria padrões quase aleatórios que são impossíveis de reverter
 

A bitola ferroviária, ou seja, a distância entre trilhos padrão dos estados unidos, é de 4 pés e 8,5 polegadas, ou 1435 milímetros. Esse é um número extremamente aleatório. Por que usaram um número assim? Existe alguma vantagem física? Houve algum estudo aprofundado para escolher? Não. Foi porque os fabricantes de trilhos eram também fabricantes dos vagões ferroviários. Por motivos óbvios a bitola de vagões e dos trilhos precisa ser a mesma. E escolheram tal bitola porque eles já tinham fábricas ajustadas para fabricar vagões nesse tamanho, então era o tamanho mais conveniente.

Mas, pode-se fazer novamente a pergunta: porque os fabricantes de vagões usavam esse tamanho? Bem porque, lá atrás, na inglaterra, quando as primeiras fábricas de vagões surgiram, era para fazer o bonde a cavalo de londres, elas eram as mesmas fábricas que faziam carroças. O bonde a cavalo é basicamente uma carruagem ou carroça que anda em trilhos. Eles já tinham todo o maquinário e experiência em fazer carroças com essa distância entre as rodas. Então, eles usaram o mesmo tamanho das carroças para fazer os vagões. Mais adiante, quando os vagões deixaram de ser puxados a cavalo, os bondes elétricos e o trem a vapor, os trilhos já estavam com esse tamanho, e a forma dos vagões seguiram com o mesmo tamanho.

Mas você ainda pode perguntar: por que os fabricantes de carroças na inglaterra usavam esse tamanho? E o motivo é: roma antiga. A inglaterra foi uma das colônias de roma. E os romanos sempre foram famosos por construir boas estradas. De fato, as estradas romanas ainda eram muito usadas quando as carruagens e carroças puxadas a cavalo modernas começaram a ser construidas. Mas as estradas eram antigas, então elas tinham sulcos de uso que vinham desde a epoca romana. As estradas de roma eram feitas principalmente para o transporte militar das legiões romanas. Para esse transporte, eles usavam carruagens militares. E essas carruagens deixou os sulcos nas estradas. E se o carroceiro moderno fizesse uma carroça com espaçamento diferente, a roda se quebraria com mais frequencia se usada nas antigas estradas romanas da inglaterra. Então as carroças modernas tinham que seguir o mesmo padrão tecnológico das carruagens militares romanas. Se você usasse uma distância diferente, por melhor que fosse tecnicamente, seus clientes iriam reclamar de rodas quebradas muito rapidamente porque eles iriam usá-las nas estradas romanas.

E por que as medidas das bigas foram definidas com essa tamanho?

Simples: Porque foram feitas para acomodar dois traseiros de cavalos!

E tem mais…

O ônibus espacial americano, o SpaceShuttle, utiliza dois tanques de combustível sólido (SRB – Solid Rocket Booster) que são fabricados pela Thiokol, em Utah. Os engenheiros que os projetaram queriam fazê-los mais largos, porém tinham a limitação dos túneis das ferrovias por onde eles seriam transportados, os quais tinham suas medidas baseadas na bitola da linha.

Até o tamanho dos foguetes do ônibus espacial, teve que ser calculado para caber em ferrovias americanas. O projeto foi feito com base na largura máxima dos trilhos, para permitir o transporte ferroviário. Ou seja, o ser humano hoje viaja para o espaço, usando foguetes que tem como padrão o tamanho das bundas dos cavalos do império romano. Mas pense: com tantas ferrovias, locomotivas e vagões construidos, mudar o tamanho da bitola seria algo impraticável.

Conclusão:

O exemplo mais avançado da engenharia mundial em design e tecnologia acaba sendo afetado pelo tamanho do traseiro do cavalo da Roma antiga.

 

Imagine que algum estudo chegasse a conclusão que bitolas de 10 pés seriam melhores. O custo para implementar tal mudança seria tão grande, que mesmo um eventual benefício acabaria não valendo a pena. Em outros países, como o Brasil, houveram estudos e questionamentos sobre o tamanho da bitola. E o resultado foi catastrófico. Acabamos com três bitolas diferentes. A 1435 milimetros a de 1600 milímetros também chamada de bitola larga, e a 1000 milímetros ou bitola métrica. Temos hoje várias ferrovias com bitolas diferente, que, portanto, não se comunicam. Além disso dificulta e encarece a produção de trens, vagões e outros itens, porque eles são específicos para determinadas ferrovias. Bem como torna o planejamento do transporte mais complexo, e até a manutenção da ferrovia. No final, era melhor ter aceitado as bundas de cavalo romanas e colocar um padrão só.

E existem inúmeras situações assim. Por exemplo, o teclado QWERTY. Esse teclado foi criado para máquinas de escrever, que nem existem mais. Mas, acabaram sendo usadas para os computadores e não vão mudar tão cedo. Porque? Bem porque quando surgiram os primeiros computadores, as pessoas já estavam acostumadas a usar esse teclado das máquinas de escrever. Havia até cursos de datiografia para aprender a digitar no teclado usando todos os dedos. Então era natural usar o mesmo teclado das máquinas de escrever. Mas qual a lógica desse teclado? Porque essa ordem de teclas que todo mundo tem que aprender.

Bem a ordem das letras foi escolhida em uma patente de Christopher Latham Sholes nos estados unidos. Então, por óbvio, ele escolheu esse padrão para a lingua inglesa. Mas havia um problema, principalmente nas primeiras máquinas, quando se digita usando duas letras de teclas próximas uma em seguida da outra. O tipo mecânico que estava indo marcar a próxima letra acabava batendo no que estava voltando da letra ao lado. Para evitar esse problema, Christopher Latham Sholes o inventor do teclado Qwerty, separou todos os ditongos comuns da lingua inglesa, de forma que muito raramente você precisa acionar duas teclas próximas para escrever uma palavra. Algumas pessoas consideram que isso, de fato, torna o processo de digitar palavras mais lento, embora isso seja controverso. O fato é que mudar o teclado agora seria um custo enorme. Então, seja para o bem, seja para o mal, usamos o teclado que usamos, em parte, devido a falhas no processo mecânico de aparelhos que foram inventados a dois séculos atrás e que ninguém mais usa depois do século passado.

O fato é que, se alguém descobrir hoje uma formatação de teclas muito melhor para usarmos, não importa. Porque o custo de mudar isso seria tão alto que não valeria a pena. Haver padronização, mesmo que numa decisão que não seja ótima, muitas vezes tem mais valor que uma tecnologia melhor, mas que implica em um alto custo para sua implantação.

Fonte: https://visaolibertaria.com/article/4e4db3d8-4283-44c2-b910-01e9df6ff65b
Fonte: https://ipemsp.wordpress.com/2010/01/23/qual-e-a-relacao-entre-o-onibus-espacial-e-a-biga-romana/