Conheça a história de Argos, o cão de Ulisses.
Ulisses, o herói grego de Odisséia, grande poema épico escrito por Homero no século VIII a.C., teve um fiel cão de caça chamado Argos.
Ulisses, depois de passar 10 anos na Guerra de Tróia, passou mais 10 anos tentando regressar ao lar, mas os deuses estavam contra ele. Não o deixavam ver do barco a sua querida "terra-mãe", a ilha que o viu nascer e crescer, Ítaca. Calipso, uma ninfa, chegou a oferecer-lhe imortalidade (e o seu coração) caso ele ficasse com ela na sua ilha Ogígia. Ulisses recusou, pois era fiel ao seu lar, ao seu palácio, e à sua mulher. Nada o demoveu de voltar, nem mesmo todos os obstáculos que os deuses lhe impuseram. Quando voltou, Ulisses soube que o seu palácio tinha sido tomado por outros reis e príncipes que desejavam a mão da sua mulher, Penélope, considerada viúva. No entanto, Penélope ia enganando a todos, tecendo uma manta de dia e que à noite desfazia, evitando assim escolher um novo marido.
Ulisses resolveu se passar por mendigo e testar quem, entre aqueles que ocupavam vorazmente o seu palácio, merecia viver. Ulisses seguiria Telêmaco de volta à cidade e iria esmolar em seu próprio palácio. Lá, avaliaria a situação e esperaria a oportunidade ideal para atacar. Quando esta ocasião chegasse, sinalizaria para Telêmaco e os dois, com a ajuda de Zeus e Atena, dariam cabo dos pretendentes de Penélope.
Do lado de fora, sobre um monte de esterco, estava um velho galgo, doente e debilitado. Ulisses reconheceu-o imediatamente. Era Argos, o cão que ele deixara, ainda pequeno, quando partira para Tróia. A cena desse reencontro inspirou Homero alguns dos mais belos versos de toda a obra: "Esquecido agora, na ausência do dono, diante do portal do palácio, Argos permanecia a vigiar, quase cego, coberto de sarna e pulgas. Ele reconheceu Ulisses no homem que chegava e, movendo o rabo, baixou as duas orelhas: faltavam-lhe forças para correr em direção ao dono. Ulisses o viu, voltou a cabeça e, tocado por sua aparência, verteu uma lágrima..." Ao comentar a aparência dilapidada do cão com Eumeu, este último respondeu que há vinte anos nenhum cão podia vencer Argos, ou farejar melhor, mas na ausência de seu senhor envelheceu e ficou malcuidado. Quando os dois entraram no prédio, Argos suspirou pela última vez e morreu em silêncio, feliz em ver seu senhor novamente após vinte longos anos.
Ninguém reconheceu Ulisses e poucos se mostraram misericordiosos para com o mmendigo, não lhe concedendo sequer a hospitalidade que era comumente dada a todo e qualquer viajante e da qual eles gozavam há muito. Ulisses enfureceu-se e, libertando-se do disfarce, matou todos os que se mostravam indignos de terem títulos...ou vida. E embora sobrassem poucos para contar a história, correu o rumor por toda a ilha de Ítaca que Ulisses tinha finalmente regressado da guerra.
Ulisses combateu na Guerra de Tróia, enfrentou o gigante Ciclope, venceu os feitiços da maga Circe, resistiu ao canto das sereias. Mas apenas seu velho cão foi capaz de arrancar-lhe uma lágrima...
Fonte: http://www.tirodeletra.com.br/cronica_canino/ArgosogalgodeUlysses.htm