Confiança e honestidade

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Confiança e honestidade - características cruciais para o enriquecimento de qualquer economia
Tolerância para com criminosos e desonestos garante o atraso

Atitudes como desonestidade, mentira e trapaça não são tratadas com a devida abjeção que merecem. Para se compreender melhor a importância da honestidade e da confiança, apenas imagine como seria nossa rotina diária se não pudéssemos confiar em ninguém.

Quando compramos em uma farmácia um recipiente contendo 100 pequenas pílulas (como vidros de homeopatia, por exemplo), quantos de nós nos damos ao trabalho de realmente contar as pílulas? E quando o remédio é líquido, quantos de nós conferimos se o volume divulgado no rótulo corresponde ao volume verdadeiro?

Quando abastecemos nosso carro no posto, como sabemos que os litros especificados na bomba realmente correspondem ao volume que entrou no tanque do carro? Quando você vai ao supermercado e compra 1 quilo de carne, você por acaso verifica — por meios independentes — se realmente está levando um quilo de carne?

Em cada um desses casos, e em milhares de outros, nós simplesmente confiamos no vendedor.

Inversamente, há milhares de situações em que é o vendedor quem tem de confiar no comprador. Após um mês de trabalho, o empregado confia que seu patrão irá lhe pagar o salário combinado. Um comerciante vende um produto e recebe em troca um cheque, o qual ele confia que tenha fundo. Um fornecedor entrega uma mercadoria para seu cliente e confia que este irá lhe pagar dali a 30 dias, como combinado.

Exemplos de honestidade e confiança são abundantes, mas imagine o custo e a inconveniência caso não pudéssemos confiar em ninguém. Teríamos de andar sempre carregando instrumentos de medição para nos certificarmos de que realmente estamos recebendo o volume correto de gasolina e o quilo correto de carne. Imagine a inconveniência de ter de contar o número de pílulas ou de mensurar o volume de um líquido dentro de um recipiente?

Se não pudéssemos confiar em ninguém, se a simples palavra do vendedor ou do comprador não tivesse valor nenhum, teríamos de arcar com o oneroso fardo de fazer contratos por escrito para toda e qualquer transação efetuada. Teríamos de arcar com todos os custos de monitoramento que garantem que a outra parte irá fazer corretamente até mesmo às mais simples transações.

Podemos dizer com toda a certeza que tudo aquilo que solapa a honestidade e a confiança aumenta os custos de transação, reduz o real valor das trocas voluntárias e nos torna mais pobres.
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A despercebida tese de Fukuyama


Os EUA, até aproximadamente 1960, possuíam uma enorme vantagem competitiva em relação ao resto do mundo por causa do alto nível de confiança que seus habitantes tinham em relação aos seus conterrâneos.

À medida que a confiança foi declinando, a taxa de crescimento econômico também declinou. Concomitantemente, houve um aumento no número de advogados.
Uma das sociedades menos produtivas de toda a Europa Ocidental é a do sul da Itália. Isso se deve à falta de confiança que reina na região.
Esse é um dos motivos pelos quais as sociedades secretas, especialmente a Máfia, têm tanta influência no sul da Itália: tais organizações provêm um mínimo de ordem social para seus membros, e a população em geral não oferece muita resistência à existência destas organizações.

Os chineses apresentam um grande nível de confiança, mas somente em relação às suas famílias. Isso faz com que seja muito difícil para empresas chinesas concorrerem com pequenos empreendimentos geridos por famílias ou com pequenos empreendimentos que tenham conexões familiares. E faz com que seja mais difícil criar grandes empresas.

Já o Japão está em um meio-termo entre os EUA e a China. No Japão, ao contrário da China, há mais confiança em organizações que não estejam ligadas a famílias. No entanto, os grandes conglomerados japoneses possuem em suas raízes um pequeno número de famílias japonesas.

Além dos EUA, pense na Suíça, no Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia. Pesquise o nível de confiança entre as pessoas e de percepção de honestidade nestes países. Pesquise como sua população interage entre si. Pesquise o grau de burocracia exigido para se fechar um negócio.

Depois, faça o mesmo para os países da América Latina e da África.
O fato de honestidade e confiança serem tão vitais deveria nos fazer repensar a nossa tolerância com criminosos e pessoas desonestas — a começar por todos os criminosos que estão vivem no setor público e que, por terem boas conexões com o judiciário, gozam de impunidade.

Comentários

Emerson Luis, um Psicologo 07/12/2014 11:04
Sobre a questão da confiança, ela é mais um fator que explica a estagnação econômica dos países socialistas. Nestes se gasta muito tempo, energia e recursos para se controlar a população. Já nos países mais liberais, todo esse tempo, energia e recursos é empregado na produtividade. O mesmo ocorre com empresas e outras organizações.

Gunnar 05/07/2017 01:45
Por fim, acredito que a desonestidade é miopia social (ou burrice mesmo). Abusar da confiança só confere alguma vantagem ao desonesto à curto prazo. O comportamento de roubar mais de um jornal da máquina automática só levaria a uma elevação dos custos do jornal e possivelmente, à eliminação dessa cômoda tecnologia, piorando a vida inclusive de quem roubou.

Leia o artigo completo em:
https://www.mises.org.br/article/1983/confianca-e-honestidade--caracteristicas-cruciais-para-o-enriquecimento-de-qualquer-economia