Entrevista ASPERGER

Síndrome de Asperger | Sintomas, diagnóstico, tratamento & apoio

Michele de Souza (Neuroengenheira)

Convidada fala sobre sua síndrome de ASPERGER | À Deriva Cortes

(142) | À Deriva Podcast com Arthur Petry https://www.youtube.com/watch?v=J8Y80...

Michele é neuroengenheira e fundadora da Cycor Cibernética, empresa que trabalha no desenvolvimento de tecnologias de integração entre seres vivos e máquinas. Michele também é especialista em desenvolvimento de exoesqueletos, biônica, cibernética, biorobótica e inteligência artificial.

Comentários:

Eu só fui diagnosticada aos 33, e é muito comum mesmo aspergers sem conhecimento sobre a própria condição acabarem virando "autistas camaleões", nós encobrimos ou disfarçamos nossas particularidades/ dificuldades/ comorbidades pra conseguirmos ser mais aceitos. Mas até o diagnóstico era uma angústia conviver com uma série de mistérios: Como ter amigos? Como namorar? Como manter uma conversa? Como conseguir falar bom dia pras pessoas na empresa? Como conseguir olhar nos olhos? Pq eu escuto esse som desse aparelho pra espantar ratos q diz na embalagem q é inaudível pro ouvido humano?
 
Pq as pessoas gostam tanto de beijar na boca se cheiro q vem do estômago e da repetição é tão ruim? Pq forçam tanto a barra pra tocar e abraçar se isso não é bom? Pq eu não gosto de festas? E esse cara gritando na rua por causa de futebol ou esse som alto do vizinho, pq quando escuto é tão dolorido q parece q tá revirando meus órgãos? Como saber se alguém está sendo sarcástico ou irônico? Será q as pessoas fingem q querem estar com outras? Pq não consigo comer tanta variedade de coisas como as outras pessoas? Pq parece q estou sempre fazendo/falando algo inadequado? Etc.. Por isso q eu digo q o diagnóstico é libertador. No final todas essas dificuldades vem de como o meu cérebro processa as coisas, e não se parece em nada com o de um neurotípico kkkkkkk. Hoje eu também estou adaptada como ela, mas pudera, foram muitos anos apanhando sozinha da vida e 11 anos de terapia.
 
Ela tem razão. Eu tenho Síndrome de Asperger's, e tirava só notas vermelhas. Como eu não tinha amigos, era nerd, etc, acharam que eu era débil mental. Então me levaram para fazer testagem de Q.I achando que com certeza eu tinha Q.I abaixo da média. Me deram o teste Stanford-Binet, considerado o padrão-ouro dos testes de Q.I, e ficaram chocados quando o meu resultado voltou como Q.I 160+. Eu tinha 10 anos de idade, e a minha "idade mental" foi dada como acima de 16 anos. A idade mental dividida pela cronológica dá Q.I 160+. O meu resultado ficou acima de pelo menos 99.9% das crianças. Detalhe: eu fiz o teste em inglês, pois estudava em escola americana.
 
Hoje, eu aceitei que sou diferente de todo mundo, e vou ser até morrer. Eu acho as pessoas medianas extremamente ilógicas a um ponto de me deixar com estupefação. Eu simplesmente não converso com ninguém, porque assim que alguém abre a boca no primeiro minuto eu já identifico dezenas de falhas nas induções e deduções lógicas nos comentários e argumentos que as pessoas fazem, e eu tenho que "morder a língua" para não corrigi-las. Tinha uma época que eu corrigia todo mundo, e eu ficava chocado que todo mundo ficava com raiva de mim. Na minha inocência de Asperger's, eu achava que as pessoas iriam me agradecer por apontar as falácias lógicas e de conhecimento nos seus argumentos. Isso porque é assim que eu me sentiria se alguém me corrigisse em algo incorreto que eu disse: grato por ser mostrado a verdade. Mas não é assim que as pessoas "normais" se sentem quando você as corrige. As pessoas "normais" são criaturas ultra emotivas que levam tudo para "o lado pessoal". Ao invés de mostrarem gratidão, mostram ressentimento. Me explicaram então que as pessoas "normais" não gostam de serem corrigidas, pois isso faz elas se sentirem inadequadas e estúpidas, e ninguém gosta de se sentir assim. Para mim, isso era muito difícil de entender, pois se alguém me corrige eu fico grato por saber a verdade ao invés de continuar errando. Mas não é assim que as pessoas normais pensam. Pior ainda são os sujeitos que, se você corrige eles, ficam bravos e querem até te "dar porrada". Me explicaram então que alguns indivíduos do sexo masculino, se você corrige eles, se sentem atacados na sua masculinidade, como se você estivesse tentando tirar deles o seu status de "macho alfa".
 
Tudo isso é surreal para nós que temos Síndrome de Asperger's, pois nós somos puramente lógicos e muito pouco emotivos, e essa ideia de levar as coisas pelo "lado pessoal" é muito estranha para nós. Mas nós estamos em absurda minoria, então temos que nos adaptar ao mundo. Temos que lidar com as infinitas agendas emocionais das pessoas normais. É como um turbilhão inacabável de emoções e drama. Isso cansa mais do que qualquer coisa.