: qual a relação?
O Transtorno de Espectro Autista (TEA) ainda é um tanto quanto incompreendido pela psiquiatria, neurologia e demais áreas que estudam a mente e o cérebro humano. Trata-se de um transtorno cujas causas ainda não foram descobertas, e suas manifestações são tão diversificadas que fica cada vez mais difícil chegar a um consenso.
Contudo, atualmente, a comunidade científica fala sobre a relação entre o autismo e a teoria da mente ou, mais especificamente, o fato de que pessoas com transtorno de espectro autista possuem um déficit na teoria da mente.
O que é teoria da mente?
A teoria da mente pode ser descrita como a capacidade de compreender que outras pessoas possuem “outras mentes”, ou seja, elas não estão pensando as mesmas coisas que nós, não têm os mesmos conhecimentos que temos etc.
Para ilustrar melhor essa ideia, imagine o seguinte: em uma sala, há duas meninas, Sally e Anne. A Sally tem um cesto e a Anne tem uma caixa, e perto delas há uma bola. Sally pega a bola, coloca em seu cesto e, logo em seguida, sai da sala. Enquanto Sally está fora, Anne tira a bola do cesto e coloca em sua caixa. A questão é: quando Sally volta, onde ela vai procurar a bola?
A partir dos 3 ou 4 anos de idade, pessoas neurotípicas respondem que Sally irá procurar a bola no cesto, pois foi lá a última vez que viu a bola — diferente do espectador, Sally não tem a informação de que a bola foi movida para a caixa. Essa lógica indica que a pessoa é capaz de formular teorias da mente, ou seja, ela compreende que na mente de Sally falta informações que ela mesma possui, e que Sally está operando com base em algo chamado “crença falsa”.
Crianças antes do 3 anos de idade não possuem essa habilidade, então a tendência é que elas respondam que Sally irá procurar na caixa de Anne, pois elas assumem que as informações na mente de Sally são as mesmas informações que elas possuem sobre a situação.
O mesmo ocorre no caso de pessoas com transtorno de espectro autista — às vezes não de maneira tão óbvia, como no exemplo de Sally e Anne, mas em geral pessoas com TEA têm dificuldade em compreender o estado mental de outras pessoas, o que muitas vezes é confundido com “falta de empatia” ou arrogância, por exemplo.
Como a teoria da mente se manifesta no TEA?
O exemplo anterior consegue ilustrar muito bem o processo em crianças pequenas, mas não funciona para explicar como funciona em pessoas com transtorno de espectro autista. Por se tratar de um espectro, as manifestações são muito variadas e, enquanto algumas pessoas podem apresentar um bom desenvolvimento da teoria da mente, outras podem ter muita dificuldade com isso.
Por isso, nem toda pessoa com autismo irá responder o teste de Sally e Anne de maneira errada — às vezes, a pessoa consegue formular uma teoria da mente em determinadas situações mais simples, como no teste de Sally e Anne, mas não consegue em situações mais complexas, como geralmente são as situações na vida real.
Uma pessoa com autismo pode ter muita dificuldade em compreender o que uma pessoa está sentindo, por mais que essa pessoa demonstre de maneiras bem explícitas, como ao chorar ou ao falar claramente que se sente triste, por exemplo. Se a pessoa com autismo não está se sentindo triste, ela pode ter dificuldade em entender que a outra está se sentindo assim, bem como pode não compreender os motivos desta tristeza.
O transtorno de espectro autista dificulta o desenvolvimento da teoria da mente, mas em graus variados. Algumas pessoas podem apresentar um atraso no desenvolvimento, enquanto em casos mais severos pode haver um desenvolvimento muito empobrecido ou nenhum desenvolvimento da teoria da mente mesmo na idade adulta.
Esse déficit na teoria da mente explica diversas dificuldades que aparecem em indivíduos com TEA, como as dificuldades de comunicação, dificuldades em situações sociais, entre outras. Há também pesquisas que mostram que a teoria da mente possui alguma relação com a função executiva, o que também pode sofrer déficits no transtorno de espectro autista.
Em suma, a teoria da mente é de extrema importância para o desenvolvimento neurotípico e, quando há algum déficit, várias áreas do desenvolvimento mental podem ser afetadas. No caso de pessoas com TEA, uma das áreas mais afetadas neste sentido é a sociabilidade, que fica bastante prejudicada.
Embora não haja muito consenso a respeito das causas do autismo, saber da relação de certos fatores com o desenvolvimento do transtorno pode guiar pesquisadores e profissionais da saúde mental a desenvolver novas intervenções a fim de melhorar a qualidade de vida de pessoas com o transtorno.
Se você acredita estar lidando com algum sintoma que possa indicar um transtorno, não hesite em entrar em contato com um profissional da saúde mental de confiança!
Referências
https://www.psychologytoday.com/us/blog/socioemotional-success/201707/theory-mind-understanding-others-in-social-world
https://www.verywellmind.com/theory-of-mind-4176826
https://www.spectrumnews.org/wiki/theory-of-mind/
Fone: https://institutodepsiquiatriapr.com.br/blog/teoria-da-mente-e-autismo-qual-a-relacao/