Quando olhamos para os regimes autoritários do passado, muitos pensam sobre a obediência daqueles cidadãos: “Eu jamais teria aceitado isso!”
Porém, nos últimos anos fomos subjugados a políticas autoritárias e muitos apenas obedeceram às ordens.
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A história de Anne Frank e sua família foi a tragédia de milhões de famílias judias do século XX, e não apenas desse povo, mas de outros povos que sofreram severas perseguições e punições de governos totalitários. O século XX foi um período de enorme terror, pois foi sucumbido pelas ideologias coletivistas que deslegitimavam a importância do indivíduo e seus direitos. Alguns autores, como Murray Rothbard, alegam que os intelectuais ateus, seculares e coletivistas foram os grandes vencedores no campo das ideias daquele período, e estes influenciaram fortemente políticos como os comunistas e fascistas – a consequência então foram os diversos massacres em massa, que viam os indivíduos como apenas números a serem descartados para o bem do estado e da causa ideológica coletivista.
A família de Anne Frank, como muitas outras famílias judias, teve que abandonar a Alemanha com a ascensão do partido nacional socialista, e sua constante ameaça aos judeus. Anne era uma criança de 4 anos quando Hitler chega ao poder na Alemanha, em 1933. Como sabem, os alemães culpavam os judeus por tudo: desde problemas econômicos e morais e até a perda na primeira guerra mundial – e por trás desse discurso, por incrível que pareça, existia uma justificação científica. Outros grupos, como ciganos, deficientes físicos e homossexuais, foram considerados inimigos do regime e sua ideologia, pois eram vistos como degenerados e inferiores pela visão eugenista adotada pelo estado alemão. O pai de Anne, Otto Frank, decide buscar uma nova vida em Amsterdã, na Holanda, esperando viver num local seguro onde começa a trabalhar comercializando pectina, um produto usado na preparação de geleias.
Anne Frank e sua família viviam uma vida normal em Amsterdã. Anne estudava na escola e tinha feito muitos amigos, sua família tinha conseguido se adaptar ao novo país e eram aceitos como judeus. No entanto, após o início da segunda guerra mundial, com a invasão da Polônia pela Alemanha, houve uma sequência de novas conquistas por parte do exército de Hitler que pouco tempo depois, em 1940, chegou a ocupar a Holanda. Em poucos dias o exército alemão consegue ocupar os Países Baixos, e, assim, todas as leis e políticas repressivas se tornam vigentes. Com as novas políticas, os judeus começam a sofrer restrições da vida comum, sendo impedidos de frequentar os mesmos espaços que os outros cidadãos e terem que usar a estrela de Davi em suas roupas. Até mesmo suas bicicletas eram confiscadas e não podiam entrar em bondes ou andar de carro.
Para conhecer mais sobre a história de Anne Frank, foi lançado no canal L de liberdade um vídeo sobre Anne e sua família, e o link estará na descrição.
É importante revelar aqui sobre o padrão que acontece quando um governo tirano começa a adotar suas políticas repressivas e a subjugar seus ditos “inimigos”. O tirano nunca remove de repente todos os direitos e implementa todas as políticas que planeja. Ele começa aos poucos, ao mesmo tempo em que usa de uma propaganda massiva para justificar seus atos. Começa impedindo determinados indivíduos de fazerem algo, seja frequentar tal espaço, empreender ou comercializar certos produtos, mas tudo isso é feito em etapas até chegar a um momento, ao longo do tempo, em que ele conseguiu remover todos os direitos possíveis de suas vítimas, que estarão por fim totalmente vulneráveis. Nesse processo, todos os que questionam tais medidas autoritárias são desacreditados ferozmente diante da opinião pública, sendo ridicularizados com todos os tipos de rótulos e insultos. Isso se dá porque se um governo tirânico implementasse de uma só vez todos os seus planos e atacasse uma grande quantidade de pessoas de uma vez, a resistência seria muito maior, e a propaganda não teria tempo de ir gradualmente convencendo a sociedade. As pessoas achariam essas novas medidas restritivas extremamente absurdas, radicais e autoritárias. E foi exatamente isso que aconteceu na Alemanha nazista. Levou-se anos até que os judeus e outros grupos perdessem totalmente seus direitos.
E não se engane: era exatamente isso que estava acontecendo também entre 2020 e 2021, quando políticas autoritárias e restritivas começaram a violar direitos básicos, muitos deles “garantidos” nos papéis da constituição brasileira, como o de ir e vir. Pessoas honestas – que nunca cometeram crimes antes – foram violentadas e impedidas de exercerem seus direitos de buscarem seus meios de subsistência, seja de comercializar e trabalhar. Foi impedido por lei festas e confraternizações dentro de propriedades privadas, violando totalmente o direito de propriedade de todos. Tudo isso foi justificado com uma poderosa e massiva propaganda midiática – alegadamente científica – que era bombardeada diariamente para todos, objetivando esse convencimento e conformismo da opinião pública, e deu certo.
Pois é, muitos nunca pensaram que seriam vítimas dessa mesma engenharia social, mas ela aconteceu em vários países do mundo nos últimos anos. Mesmo com um suposto amadurecimento da sociedade após as diversas tragédias e genocídios do século passado, e das novas tecnologias como a internet que nos permite ver diversos lados de uma mesma narrativa e conhecer mais a ciência de verdade, a maioria das pessoas foram controladas pela versão da grande mídia e da narrativa política – tudo com patrocínio de grandes corporações farmacêuticas, que viram uma excelente oportunidade de obter lucros estratosféricos durante a suposta crise. A ciência – mais uma vez – virou instrumento de repressão do estado, e quem agisse de forma verdadeiramente científica, com pesquisas honestas, comparações de casos e constante questionamento prudente, foi desacreditado e ridicularizado. Vários países que sempre foram considerados sólidas e respeitáveis democracias sucumbiram ao totalitarismo sanitário, da “ciência” de uma só voz. E não se engane de novo: essa mesma “ciência” foi usada pelos alemães para restringir os direitos dos judeus e controlar mais facilmente a população. E a ciência da Alemanha de Hitler foi usada para diversos fins, inclusive de fazer experimentos médicos em crianças e prisioneiros adultos sem seu consentimento. Sobre isso já falamos em um vídeo lançado aqui no Visão Libertária, intitulado “O Código de Nuremberg”, o link estará na descrição.
Portanto, fica claro, então, que todas as pessoas que descumpriram as leis que perseguiam os judeus estavam agindo de forma corretamente ética e moralmente. Essas pessoas – que foram verdadeiramente corajosas e descumpriram as ordens dos psicopatas no poder – sabiam que os direitos individuais e a vida humana não são negociáveis por discursos e narrativas políticas não podem ser relativizadas em nenhum pretexto. Não existe a tal desculpa “estou apenas cumprindo ordens”. Todo ser humano é um ser racional e consciente, dotado da capacidade de fazer julgamentos morais, e é isso que nos diferencia dos outros animais.
Durante vários períodos da história da humanidade, muito além da Alemanha, os soldados e demais agentes do estado foram ordenados a executarem de forma brutal incontáveis pessoas inocentes, incluindo bebês e mulheres grávidas. Esses zumbis do estado, meros cumpridores de ordem, sem princípios morais e virtudes, são os verdadeiros culpados que permitem que todo crime e genocídio seja bem-sucedido. Não foi o ditador alemão e seus asseclas mais próximos que mataram milhares a milhões de pessoas, mas sim os cidadãos comuns que estavam apenas cumprindo as ordens e as leis da época, e eram vistos como bons cidadãos pelo estado, exatamente por serem obedientes. Muitos judeus só foram descobertos por denúncias de cidadãos comuns, e não pela polícia do estado alemão.
A família Frank e outros conhecidos próximos se esconderam num prédio em Amsterdã em junho de 1942, em um anexo secreto que ficava atrás de uma estante de livros. Alguns leais funcionários de Otto Frank os ajudaram a se esconder. Assim, eles conseguiram se manter durante mais de 2 anos, não tendo uma vida fácil com tantas restrições. Anne Frank ocupou muito de seu tempo ocioso com estudos e em escrever no seu diário – ela até mesmo desenvolveu um romance com um outro jovem que também estava escondido no anexo secreto. Ela escrevia sobre sua família, sobre seus amigos, sobre o amor e suas esperanças de um futuro diferente. Anne foi uma corajosa garota que nunca perdeu a esperança na vida e na humanidade, desejava ser escritora e construir um mundo melhor. Infelizmente, graças a uma denúncia, o esconderijo da família Frank foi descoberto no dia 4 de agosto de 1944. Todos eles foram presos e transportados para campos de concentração. O único a sobreviver foi Otto Frank, o pai de Anne. Por sorte, o diário de Anne não foi destruído ou roubado pelos guardas, e mais tarde ele foi entregue a Otto por uma secretaria que o ajudava. Estando aprisionada no campo de concentração de Bergen-Belsen, numa condição de desnutrição, exaustão e doente, Anne morre junto à sua irmã no ano de 1945, pouco tempo antes do fim da guerra e liberação dos presos dos campos.
As vidas de 6 milhões de homens, mulheres e crianças judias foram ceifadas por uma falsa visão da “ciência” que os nazistas tinham – e sim, tudo isso começou com a elaboração de uma falsa ciência eugenista e totalmente errada. É difícil imaginar como a vida de milhões de pessoas e o mundo seriam diferentes se todas essas vítimas tivessem tido a oportunidade de viver, de criar, de trabalhar e de impactar o mundo com seus talentos e sonhos. Toda essa tragédia só nos mostra que qualquer teoria ou narrativa que incita a violência a outros indivíduos e que não aceita questionamento deve, sim, ser questionada por todos. A discriminação contra os judeus e sua posterior perseguição eram embasadas pelas autoridades alemãs da época, através de teorias raciais que defendiam que os alemães eram pertencentes a uma raça superior, chamada ariana, e os judeus pertencentes a uma raça inferior que contaminava a raça ariana e a prejudicava. Essa ciência dos nazistas - como a nova ciência sanitária dos dias de hoje - não tinha sido questionada pelos alemães da época, e a consequência foi uma enorme concentração de poder no estado que orquestrou um dos maiores genocídios da história.
Trago, por fim, uma frase de Antônio Munoz Molina:
“Quando a barbárie triunfa, não é pela força dos bárbaros, mas sim pela capitulação dos civilizados.”
Fonte: https://visaolibertaria.com/article/d01abef6-8d47-433a-91d0-fecce99d8278