O Vale da Estranheza
(Segundo o professor de robótica Masahiro Mori) é um lugar onde nós somos transportados quando entramos em contato com réplicas quase perfeitas de seres humanos, sejam elas físicas, como robôs, ou virtuais, criadas em computação gráfica e animações.
O sentimento que vivenciamos é de um certo incômodo, a tal da estranheza da expressão – quase uma repulsa. Representações humanas não realistas despertam empatia, como o garoto Andy da animação "Toy Story" ou C3PO, de "Guerra nas Estrelas", ou mais rudimentares e cartunescos ainda, como Wall-E ou os humanos caricatos do desenho animado sobre o robozinho. Conforme a semelhança com seres humanos vai aumentando e chega bem perto do realismo, atinge-se o ponto que nos leva ao Vale da Estranheza. É humano ou não? Embora nossa percepção diga que sim, há algo estranho – e o nosso subconsciente aciona instintos primitivos que tentam categorizar o que é nossa espécie (amigo) e o que não é (inimigo). Mas, segundo a teoria de Mori, se esta fronteira é ultrapassada, voltamos a ter afeição pelos nossos "replicantes".
"É incômodo assistir um filme cujos personagens estão no vale da estranheza" ~D.B.
Avanços em inteligência artificial, robótica, eletrônica e fabricação de materiais que imitam a pele humana nos fazem vilsumbrar, em um futuro próximo, androides cada vez mais realistas. Na computação gráfica, há o desafio de criar não apenas imagens estáticas de Saya e personagens como ela. A cópia dos movimentos humanos é muito complexa e demanda muito tempo de trabalho, além de ser dificílima de ser reproduzida de maneira realista.
Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/beto-largman/post/cruzando-o-vale-da-estranheza.html
Em experiências, quando uma réplica humana se parece toscamente a um ser humano e vai sendo aperfeiçoada de modo a ficar cada vez mais perfeita, nota-se que a reação de observadores é de empatia que cresce proporcionalmente ao aperfeiçoamento. Ou seja, quanto mais se parece o robô, personagem de animação ou game com um ser humano de verdade, mais empatia ele gera. Até certo ponto. Ao se aproximar muito da perfeição, alcança-se esse ponto e a empatia começa a diminuir até se tornar repulsa.
A teoria tenta explicar porque isso ocorre. Segundo os estudiosos, a réplica quase perfeita induz nosso subconsciente a entender aquilo que vemos como um ser humano com algum tipo de defeito. Próteses para pessoas com deficiência muito parecidas com membros reais também caem no vale da estranheza. O termo “vale” é utilizado porque graficamente o fenômeno se apresenta em forma de vale. Observem os 2 exemplos abaixo:
Além dos fatores neurocientíficos, a explicação científica para o fenômeno do Uncanny Valley também envolve uma combinação de fatores psicológicos. A seguir, confira algumas das teorias que têm sido propostas para explicar a sensação de estranhamento:
1) Teoria da percepção imitativa: esta teoria sugere que o estranhamento ocorre porque o cérebro humano é altamente sensível à percepção de sinais sociais e emocionais. Quando um objeto ou representação está perto de se assemelhar a um ser humano real, o cérebro espera que ele exiba as mesmas expressões emocionais e comportamentos sociais que um ser humano real exibiria. Qualquer desvio dessas expectativas pode levar a uma sensação de estranheza.
2) Processamento cognitivo: outra teoria sugere que o cérebro humano está constantemente avaliando a semelhança entre estímulos visuais e representações mentais preexistentes. Quando um objeto está no “vale da estranheza”, ele pode se assemelhar a um humano real o suficiente para ativar essas representações mentais, mas as diferenças sutis podem resultar em um conflito cognitivo. Isso pode levar a sentimentos de incerteza e desconforto.
3) Evolução e sobrevivência: alguns pesquisadores argumentam que o fenômeno do Uncanny Valley pode estar enraizado em nossa espécie. Durante a evolução, os seres humanos desenvolveram a capacidade de identificar rapidamente outros seres humanos e determinar se eram amigos ou ameaças. Quando um objeto se assemelha quase perfeitamente a um humano, mas não é autêntico, nosso cérebro pode reagir de forma negativa, associando-o a um potencial risco.
4) Hipótese da ambiguidade: Essa teoria sugere que a sensação de estranheza ocorre quando a representação está em uma zona ambígua entre humano e não humano. O cérebro pode lutar para categorizar o objeto de maneira clara, levando ao desconforto.
É importante observar que essas teorias não são mutuamente exclusivas e podem interagir de maneira complexa para criar a sensação de estranhamento dentro do conceito de Uncanny Valley. Cientistas continuam a explorar esses mecanismos subjacentes para entender melhor por que esse fenômeno ocorre e como ele pode ser mitigado em diversas aplicações, como animação por computador, design de robôs e realidade virtual.
Fonte: https://dotlib.com/blog/uncanny-valley-conheca-o-fenomeno-do-vale-da-estranheza