Conviver com borderlines não é uma tarefa simples, mas algumas informações sobre o transtorno pode nos ajudar
a entender melhor o sofrimento que o portador desse transtorno é obrigado a enfrentar internamente.
Pessoas com transtorno de personalidade borderline apresentam elevada reatividade emocional, ou seja, em um curto espaço de tempo oscilam de humor intensamente. Essa característica geralmente é disparada por algum evento que a pessoa interpreta como se estivesse sendo rejeitada ou negligenciada em suas necessidades.
Geralmente elas agem impulsivamente, se colocando em risco e aos outros também. Têm dificuldades em manejar a raiva, que normalmente é percebida pela maioria como intensa e desproporcional às situações desencadeantes.
São pessoas que costumam se defender atacando, mesmo quando não estão sendo atacadas. Fato que acaba provocando o que elas mais temem que é o afastamento das pessoas e o sentimento de abandono.
Comumente apresentam comportamentos suicidas, parasuicidas( situações de risco de morte) autodestruição e automutilação.
Desconfiam de todos, pois acreditam que o mundo não é confiável e poderão ser abandonados ou traídos a qualquer momento. Nos relacionamentos interpessoais apresentam medo excessivo de serem abandonadas, comportamento facilmente perceptível, através de crises intensas de ciúmes.
Seus pensamentos são dicotomizados, ou seja, num instante te ama e no outro te odeia. Vão do oito ao oitenta em poucos minutos, quando percebem que suas necessidades básicas principalmente de afeto não foram supridas. Suas reações costumam ser impulsivas e agressivas.
Embora elas consigam se adaptar bem à maioria das situações, geralmente oscilam apresentando comportamentos semelhantes aos psicóticos, pois costumam apresentar falhas nos testes de realidade, ou sintomas dissociativos de despersonalização (sensação de estranheza diante do próprio eu) e desrealização (sensação de estranheza em relação ao meio), devido à quebra da realidade, provocadas por situações experimentadas como sendo extremamente estressantes, podendo nesses momentos, aparecerem pensamentos paranóicos intensos, e ou idéias de conspirações contra elas, de abandono e abuso.
É comum vivenciarem sensações de vazio crônico e instabilidade de identidade, essa última pode ser percebida através de comportamentos infantis, podendo ser interpretados erroneamente pelos outros, como atitudes de manipulação.
São hipersensíveis emocionalmente e tendem a ter sempre uma visão negativa das situações, fazendo com que o seu foco seja sempre para elementos que indicam abandono e rejeição. Isso se dá pelas experiências de vida, onde o aprendizado mostrou que suas necessidades básicas não foram minimamente satisfeitos, o ambiente foi invalidante de suas expressões emocionais, e suas necessidades de afetos não foram consideradas. Tendem a apresentar dificuldades de discriminar as emoções reagindo às tristezas, medos, angústias e frustrações, sempre com a raiva.
Se não é fácil conviver com pessoas que apresentam esses comportamentos descritos, imaginem para elas, quem são povoadas em seu psiquismo por esses turbilhões de sofrimentos.
Quando medicados, esses indivíduos ficam mais tranquilos, mas é muito triste sofrer de borderline. Essas pessoas pensam em binário. Preto ou branco. Sim ou não. O raciocínio delas é incrivelmente rápido, são pessoas criativas, mas têm muitos problemas emocionais afetivos. Sentem medo de serem trocadas, abandonadas. Vivem testando seu apreço por elas, para terem certeza de que é real. Gostam de causar ciúme pra se sentirem amadas, fazem exposição de si mesmas em público para validação e usam chantagem emocional.
São implosivas ou explosivas quando algo não agrada, podendo fazer escândalos ou cortar os pulsos para chamar a atenção, bem como ficar sem comer, outros comportamentos que são de caráter danoso a si e até por em perigo a própria vida por conta da necessidade de atenção constante.
Tem esse vídeo no YT chamado borderline personality disorder (2017) que ilustra bem
A garota borderline que eu conheci era problemática desde criança. A princípio solitária, tímida, retraída, não aprendeu o que era amor e confiança dentro de casa mas sempre sonhou com um lar e tudo aquilo que via nos filmes: a ceia de natal com todos reunidos a mesa, as férias em família, os presentes de aniversário…
Nos primeiros contatos sociais era vítima de deboche e até agressões dos coleguinhas na escola primária.
Apesar de tudo era uma criança brilhante, inteligente, desenhista, criativa, mas já na infância começou a se fechar para as pessoas e se distanciar de convívios sociais, gostava mesmo era de animais e preferia sempre a companhia deles — sabia que podia confiar no seu Snoopy para tudo.
E assim ela cresceu. Na adolescência a rebeldia chegou forte junto a problemas familiares maiores que não cabem aqui, caso de Linha Direta Justiça e tudo. No meio do caos não encontrava um lugar para si no mundo, se via fragmentada e, além disso, não se encaixava em nada a não ser no estereótipo raso de jovem arruaceira. Tentando fugir da toxicidade parental casou cedo, mas o fez com um pústula que aumentou ainda mais seus medos e inseguranças traindo, mentindo e abusando.
Depois ela seguiu só, cada vez mais antisocial e o que nunca foi passou a ser: agressiva. Já não era mais a garotinha indefesa da infância e nem a adolescente confusa, agora ela reagia, e reagia exageradamente para compensar tudo.
Gostava de velocidade, tinha predileção por motos, por isso a combinação de álcool e estrada lhe rendeu muita adrenalina e diversão irresponsável. Por vezes era um impulso de morrer, outras vezes um impulso de viver tudo de uma vez. Os relacionamentos chegavam e se íam da mesma forma, rápidos e extremos. Buscava sempre homens de má índole e o fazia propositalmente já que não confiava em "gente do bem", pelo menos daqueles sabia o que podia esperar.
Odiava qualquer um, mas não sem razão, veja bem: todos a quem amou ou buscou com o coração lhe viraram as costas quando mais precisou.
Sabia que não podia confiar em ninguém.
Eu conheci essa garota no meio de um surto autodestrutivo onde ela sacou de um bisturi e fatiou as próprias pernas. Depois desse episódio a psicóloga virou para mim e disse: você é borderline, vou te encaminhar para um psiquiatra para confirmar e encaminhar o tratamento.
Pois bem, a garota sou eu.
Então essa é a minha experiência com um borderline - que sou — e contrariando o senso comum gosto de o ser.
Me dignei a dar essa resposta depois de receber sucessivas questões no Quora sobre o tema e, cada vez mais, ver respostas genéricas de 'vítimas de borderline' montando a cruz e preparando os pregos para pendurar todo e qualquer um que tenha o transtorno.
Atento aqui que o Transtorno de Personalidade Limítrofe não é a face do mal em um ser humano mas antes um conjunto de sintomas derivados de problemas anteriores e que causam sofrimento até mesmo para o próprio indivíduo.
Me julguei muito, me condenei muito e me castiguei muito até fazer as pazes comigo mesma. Hoje vivo continuamente a aceitação de minha sombra, entretanto, se tem uma coisa na qual eu me resolvi foi soltar as rédeas do meu ser sem culpa.
O Transtorno de Personalidade Limítrofe, ou Síndrome Borderline, é apenas a pele que eu vesti para lidar com o mundo.
Fora isso:
I'm fucking crazy, but i am free.
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